Relatórios
de viagem produzidos pelo Palácio do Planalto revelam que o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva contou com sua segurança pessoal por 111 vezes em Atibaia,
entre 2012 e 11 de janeiro deste ano. É nas matas de Atibaia, no interior de
São Paulo, que fica o sítio Santa Bárbara, no qual a Odebrecht gastou R$ 700
mil em reformas. No papel, o sítio está em nome de um amigo de Lula e do sócio
de um dos filhos dele - Fábio Luís, aquele que enriqueceu graças à parceria
empresarial com a telefônica Oi. Lula nega ser dono do sítio e disse, por meio
de assessoria, frequentar o local somente em “dias de descanso”. As evidências
obtidas por ÉPOCA, porém, confrontam fortemente a versão do ex-presidente. A
cada cinco dias, um segurança de Lula era deslocado para Atibaia. Quem visita
sítio de amigos com tamanha frequência?
Foram
mapeados os dados a partir das diárias dos sete servidores que fizeram parte da
equipe de segurança do ex-presidente. No total, eles receberam 968 diárias da
presidência, custando R$ 189 mil. Os dados mostram que, em muitos casos, os
seguranças tiveram de alternar turnos em Atibaia, como forma de garantir que
assim sempre estivesse alguém na cidade num determinado período. Se, por
exemplo, um segurança ficou de segunda-feira a quinta-feira, e outro chegou na
quarta-feira e ficou até sábado, ÉPOCA contabilizou apenas uma viagem, de
segunda a sábado. O itinerário é quase sempre o mesmo: São Bernardo do Campo
(onde Lula mora), Atibaia e retorno para a mesma cidade.
A versão
de Lula para o caso do sítio é clara. Segundo a assessoria de imprensa de Lula,
"o ex-presidente Lula e também Dona Marisa, frequentam em dias de descanso
um sítio de propriedade de amigos da família na cidade de Atibaia". ÉPOCA
questionou o Instituto Lula sobre as viagens dos seguranças a Atibaia, mas a
assessoria não fez comentários. Disse que "tentativa de associá-lo a
supostos atos ilícitos tem o objetivo mal disfarçado de macular a imagem do
ex-presidente".
Para
fazer essas 111 viagens, os seguranças de Lula pernoitaram um total de 283
vezes em Atibaia. O período total dos documentos é de cerca de 1400 dias _ as
datas na cidade representam cerca de 20%. Em junho e julho de 2014, por
exemplo, os seguranças de Lula passaram seis finais de semanas seguidos na
cidade do sítio. há casos em que as idas a Atibaia representam quase a metade
de todas as viagens feitas por um segurança de Lula.
Como todo ex-presidente, Lula tem por direito contar com segurança e assessores. A lei, contudo, não estende esse benefício a familiares. ÉPOCA cruzou as viagens dos segurança a Atibaia com dados produzidos pela Polícia Federal sobre entradas e saídas do país por Lula, material que integra a investigação do Ministério Público Federal sobre tráfico de influência internacional.
Em seis
datas, os seguranças de Lula estão em Atibaia enquanto o ex-presidente ou
estava retornado ou deixando o país. Às 7h57 do dia 13 de março de 2013, a PF
registrou a saída de Lula do país. Ele começava ali um tour pela África.
Naquele mesmo dia 13, o militar Elias dos Reis deixava São Bernardo, rumo a
Atibaia. Recebeu de diária R$ 265, voltando a São Bernardo no dia seguinte.
Enquanto Lula estava na África, o Planalto assim registrou a viagem a Atibaia:
“Compor a equipe de segurança do Sr Ex-Presidente da República”. O que um
segurança do ex-presidente fazia em Atibaia enquanto Lula estava na África?
As
diárias estão disponíveis a partir de 2012. A primeira ida registrada é em 30
de março de 2012. Naquele ano, as viagens eram curtas. Em 14 ocasiões, foi
apenas um bate volta, sem pernoite. A frequência começa a se intensificar ao
longo dos meses, chegando ao auge em julho de 2014 _ era a Copa do Mundo. Lá,
os seguranças de Lula estiveram presentes nas partidas contra Chile e Colômbia,
na fase final do torneio. Depois, ficaram o maior período no sítio. A partir do
dia 17 de julho, por onze dias seguidos algum segurança presidencial esteve
presente em Atibaia.
Fonte: ÉPOCA.
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