Na reta final de seus trabalhos, a CPI da
Covid da Assembleia Legislativa teve mais uma reunião na tarde desta
quarta-feira (24). Três investigados foram ouvidos pelos parlamentares e
trataram sobre serviços contratados no estado e também da compra
frustrada de respiradores pelo Consórcio Nordeste. Um dos ouvidos, o
empresário Carlos Kerbes foi o primeiro dos investigados com relação ao
contrato da compra de respiradores que não permaneceu em silêncio na
CPI.
Na reunião, a
ex-secretária adjunta de Saúde do Estado, Maura Sobreira, foi ouvida na
condição de investigada e tratou, principalmente, sobre a fiscalização
de contrato firmado para operacionalização de leitos covid-19.
Investigada na Operação Lectus, os pontos referentes à apuração da
Polícia não foram tratados porque a investigação transcorre em segredo
de Justiça. Já o empresário Arthur Antunes, investigado no contrato
entre a M A Engenharia Clínica e SESAP, permaneceu em silêncio.
No
início da reunião, contudo, o primeiro a ser ouvido foi o empresário
Carlos Kerbes. O investigado abriu mão do direito de permanecer em
silêncio e respondeu a todos os questionamentos dos parlamentares,
inclusive qual sua relação com a empresa Hempcare. Kerbes negou relação
com o ex-presidente do Consórcio, o governador da Bahia Rui Costa, e com
o ex-secretário da Casa Civil do Governo baiano, Bruno Dauster. Apesar
de confirmar a relação de amizade com Jório Dauster, irmão de Bruno
Dauster, o investigado negou qualquer relação de negócios ou societária
com ele.
Por outro lado,
Kerbes, que tem empresa de consultoria financeira, confirmou relação com
a empresa Hempcare durante a pandemia. O empresário disse que foi
procurado pela empresa através de Cleber Isaac, que o conhecia devido a
ações comerciais no Rio de Janeiro de 2016. O objetivo do contato da
Hempcare, segundo Carlos Kerbes, era conseguir contato com fornecedores
chineses para a aquisição de testes covid. As tratativas ocorreram entre
abril e maio de 2020, de acordo com Kerbes.
O
empresário disse que recebeu as propostas dos chineses e, além dos
valores de testes covid, também havia sido encaminhada uma lista com
outros produtos que seriam fornecidos. Apesar disso, ainda de acordo com
ele, não houve o fechamento de negócio entre a Hempcare e os chineses
através de sua mediação. Mesmo assim, ele confirmou ter recebido R$ 400
mil da Hempcare, em quatro parcelas, entre a segunda quinzena de abril e
a primeira quinzena de maio. O dinheiro foi pago mediante contato
informal, já que, ainda segundo Kerbes, não houve o fechamento de nenhum
contrato entre ele e a empresa investigada pela CPI.
Questionado
pelo presidente da CPI, deputado Kelps Lima (Solidaridade), se ele
sabia sobre a negociação dos respiradores, Kerbes disse que obteve a
maioria das informações através da mídia. Porém, ele admitiu que, nas
tratativas com a Hempcare, os empresários Cristiana Taddeo e Luiz
Antônio Ramos, além de Cléber Isaac, teria falado sobre três assuntos
referentes à pandemia: a necessidade de encontrarem uma empresa de
logística para trazer os respiradores da China, a busca por fornecedores
de outros produtos, além da negociação já firmada entre a Hempcare e o
Consórcio Nordeste para a compra de respiradores. Segundo ele, quando a
Hempcare entrou em contato com ele, a negociação dos respiradores com o
Consórcio já estava fechada.
"Eu
quero agradecer ao senhor por ter sido a primeira pessoa que tratou
sobre o Consórcio Nordeste a não ter ficado em silêncio na CPI", disse o
deputado Kelps Lima. "Vim apreensivo sobre como seria o depoimento, mas
fico feliz em ver que a linha da CPI é clara e direta. Coloco-me à
disposição para ajudar para quaisquer outros esclarecimentos", disse
Kerbes.
Para a
quinta-feira, a CPI tem mais sete depoimentos previstos, sendo três
presenciais e quatro por videoconferência. Entre os depoimentos
previstos está o de Jório Dauster, que vai tratar sobre acerca da compra
de respiradores pelo Consórcio Nordeste.