O governador de Pernambuco, João Lyra Neto (PSB), anunciou, em coletiva realizada na noite desta quarta-feira (14), no Palácio do Campo das Princesas, sede do Executivo estadual, que solicitou a ajuda dos homens da Força Nacional de Segurança Pública e do Exército para substituir os PMs grevistas. As tropas começaram a desembarcar no estado já na madrugada desta quinta (15) para fazer o policiamento ostensivo. Lyra Neto acrescentou que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, virá ao estado nesta quinta, acompanhado de um general designado para comandar as ações das Forças Armadas.

Uma comissão independente de PMs iniciou a paralisação na noite de terça (13) e decidiu manter a mobilização na noite desta quarta (14), após reunião com líderes do governo e representantes da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). “Pelo não cumprimento do acordo feito com a comissão dos deputados, com a minha presença, não tive outra alternativa para dar segurança ao povo pernambucano. Requisitei a Força Nacional para que pudesse ser mantida a ordem e a segurança pública em Pernambuco”, afirmou o governador.

Ele acrescentou que conversou “longamente” com o ministro da Justiça. “Ele [José Eduardo Cardozo] mandou a sua diretora de Segurança Pública para o Recife, conversei com ele e definirmos a convocação. Além dessa solicitação da Força Nacional, convocamos o Exército brasileiro para aumentar ainda mais a segurança. Também fiz um ofício para presidenta a Dilma Rousseff, conversei longamente com ela, que disse que o estado podia contar com toda a solidariedade”, acrescentou João Lyra Neto. Por questão de segurança, o número de homens que integrarão as tropas não foi informado.
Ainda segundo o governador, as lideranças do movimento não transmitiram aos grevistas o que foi acordado na reunião realizada na tarde desta quarta. “Inexplicavelmente eles tomaram essa decisão de continuar a greve. Dos 18 itens [da pauta de reivindicações da categoria], um já estava acordado desde 2011, quando foi pactuado um reajuste de 14,55% até 2014 e já íamos colocar em prática. Outros [pedidos] não são possíveis pelas limitações da legislação em ano eleitoral”, argumentou João Lyra Neto.

No início da noite desta quarta, o secretário da Casa Civil de Pernambuco, Luciano Vasquez, afirmou que entrou com ação na Justiça estadual e no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo a abusividade e ilegalidade da paralisação dos policiais e bombeiros militares. A assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça de Pernambuco informou que o pedido já está sendo analisado pelo presidente da Corte estadual, desembargador Frederico Neves.
De acordo com o secretário da Casa Civil de Pernambuco, na mesa de negociação com o governo, a categoria tinha se comprometido em encerrar a paralisação. "Nós avançamos dentro de uma negociação que já havia sido feita lá atrás (2011), quando tivemos o aumento de 14,54% na data base do próximo mês de junho. Outros pontos foram solicitados pela comissão de parlamentares e o governo, dentro da sua limitação legal, a legislação eleitoral e de responsabilidade fiscal, conseguiu avançar em alguns", argumentou Vasquez.
Um dos representantes dos PMs, soldado Joel Maurino, afirmou que a paralisação foi mantida porque não foi fechado acordo quanto ao aumento de 50% no salário-base, uma das reivindicações da categoria. “Mesmo sendo ano eleitoral e com a Lei de Responsabilidade Fiscal, PMs de outros locais, como Rio de Janeiro e Manaus, tiveram aumento maior que o nosso. Não é possível que Pernambuco, um estado que teve um crescimento grande nos últimos anos, não consiga nos dar esse reajuste”, comentou.

Ainda segundo ele, durante a reunião, ficou acordada a criação, a partir de quinta (15), de uma comissão especial para tratar da reestruturação do centro médico hospitalar da PM. “Também tivemos a garantia da Alepe de que, até 30 de julho, será resolvida a questão das promoções. Já a incorporação da gratificação do risco de vida no salário, no valor de R$ 500, será votada até 30 de julho no plenário da Assembleia”, acrescentou Joel Maurino.
O grupo envolvido na mobilização também pleiteia, entre outros pontos, aumento do vale-refeição e estruturação do Plano de Cargos e Carreiras (PCC) da corporação.
Na noite desta quarta, lojas foram arrombadas e saqueadas em Abreu e Lima, cidade do Grande Recife. Um grupo também saqueou pelo menos dois caminhões -- sendo um deles dos Correios e outro de uma transportadora de carga -- e depredou vários ônibus em um trecho da BR-101, que corta o município. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) foi acionada e enviou 35 homens para o local. Nove pessoas foram detidas e levadas à Delegacia de Paulista (Grande Recife) suspeitas de furto qualificado. O clima na região ainda é tenso.