A Justiça do Rio Grande do Norte recebeu nesta nesta sexta-feira (20) um pedido de revogação da prisão preventiva da servidora da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, Ana Paula Macedo de Moura, uma das presas na operação Dama de Espadas, deflagrada pelo Ministério Público nesta quinta-feira (20). De acordo com o MP, Ana Paula teria tentado ocultar provas da atuação da associação criminosa investigada e atuava como uma "funcionária pessoal" da procuradora-geral Rita Mercês, principal investigada no caso.
O advogado da servidora, Lincoln Werner, argumenta que não há necessidade de Ana Paula continuar presa após o cumprimento dos mandados de busca e apreensão. "Se todos os mandados na Assembleia Legislativa e nos imóveis indicados foram cumpridos, não existe risco. Até agora não temos uma acusação formalizada. Não sabemos porque minha cliente está presa", esclarece.
A servidora prestou depoimento nesta sexta no Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP, e segundo Werner, está disposta a colaborar com o Ministério Público. "Queremos esclarecer tudo e equívocos que possam ter sido cometidos", reforça.
No pedido de revogação da prisão feito ao Judiciário, Werner também aponta equívocos na custódia de Ana Paula. Por ter ensino superior em Turismo, a investigada teria direito a uma cela especial e não há disponibilidade de um espaço com esses requisitos no sistema prisional. "O MP afirmou que havia disponibilidade de cela especial, porém conversamos com a direção do presídio e descobrimos que não há essa vaga", explica. Atualmente Ana Paula está custodiada na ala feminina do Complexo Penal João Chaves, na Zona Norte de Natal.
Werner sugere a modificação da prisão da servidora. "Na falta de cela especial, direito previsto em lei, sugerimos a prisão domiciliar ou uma sala do Estado-Maior", ressalta.
Ocultação de provas
Para embasar os pedidos de busca e apreensão contra Ana Paula, o MP cita a interceptação de uma ligação telefônica do dia 12 de agosto deste ano na qual a servidora pergunta se sua mãe já queimou "aqueles negócios". "Não pode botar no lixo, tem que queimar (...) Tem muita informação dela, sabe, aí não pode", diz Ana Paula. Na ligação, a mãe chega a dizer que se tratam de "pastas".
O MP acredita que o material citado na ligação possuía informações sobre a procuradora-geral Rita Mercês. O órgão ministerial acusa Ana Paula de ocultar provas. O advogado de defesa da servidora informou que ainda não teve acesso aos áudios e preferiu não comentar a conversa de Ana Paula com a mãe.
No mesmo documento, o MP afirma que os serviços prestados por Ana Paula à Rita Mercês extrapolavam o trabalho como servidora pública. Para o órgão ministerial, ela era 'funcionária pessoal' da procuradora-geral.
A servidora, segundo o ministério, trabalhava para o escritório R& R Advocacia Assessoria e Consultoria, que pertence à Rita Mercês e seu filho, e que tem como sócio Rodrigo Marinho, secretário administrativo da Assembleia Legislativa e um dos investigados na operação Dama de Espadas. De acordo com o MP, o escritório funcionava como um "bunker onde eram travadas as negociatas escusas patrocinadas por Rita e os demais investigados".
Ana Paula entrou para os quadros da Assembleia Legislativa com um cargo comissionado em 2009, mesmo ano em que foi contratada pelo escritório, do qual se desvinculou no ano seguinte. Em maio de 2015, a remuneração da servidora na Assembleia Legislativa era de R$ 12.890,80. Para o ministério, o fato de receber dinheiro público e ser 'funcionária pessoal' de Rita Mercês configura a prática de peculato - desvio de recursos.
Como evidência das relações estreitas entre Ana Paula e os demais investigados, o MP acrescenta que a servidora é sócia de uma empresa de locação de veículos beneficiada em diversos empenhos emitidos pela Assembleia Legislativa, e pontua ainda que ela chegou a exercer um cargo no Instituto de Desenvolvimento Econômico o Meio Ambiente (Idema) durante a gestão do filho de Rita Mercês no órgão estadual.