As interceptações telefônicas feitas nas investigações da operação Citronela revelaram uma suposta negociação entre policiais militares do 9º Batalhão da Polícia Militar e integrantes da organização criminosa comandada pelo paraibano Joel Rodrigues, de 42 anos, mais conhecido como 'Joel do Mosquito'. O traficante foi preso na operação Citronela em 25 de setembro e foi encontrado morto dependurado pelo pescoço no último sábado (10) na Cadeia Pública de Natal.
A descoberta dos acertos dos PMs com os criminosos desencadeou a operação Novos Rumos, deflagrada quatro dias depois da operação Citronela. A ação resultou na prisão de 12 policiais militares lotados no 9º BPM no dia 29 de setembro.
Com base em uma das interceptações telefônicas, feita no dia 17 de outubro, o Ministério Público aponta que um cabo e dois soldados da Polícia Militar aceitaram "vantagem indevida" para liberar dois homens presos na Favela do Mosquito. De acordo com a denúncia, os criminosos detidos atendem pelos apelidos de 'Zé Macário' e 'Biita'.
A interceptação mostra que dois integrantes da organização criminosa comandada por Joel do Mosquito falam sobre as prisões e confirmam o acerto com os policiais. A entrega da recompensa pela liberação dos dois homens teria acontecido no bairro das Quintas, o mesmo onde fica a Favela do Mosquito.
O MP chegou a enviar uma equipe para flagrar a entrega, porém, de acordo com a denúncia, só foi possível fotografar dois carros da Polícia Militar no local acertado por criminosos e PMs. Um dos carros era o 924, do 9º Batalhão da PM. O MP instalou uma interceptação ambiental no veículo e flagrou posteriormente diversos crimes cometidos pelos PMs denunciados na operação Novos Rumos.
Depois do encontro no bairro das Quintas, uma nova interceptação confirma que a negociação deu certo e os dois presos foram liberados pelos policiais. Dois integrantes da organização criminosa conversam. Um deles pergunta pelos dois presos e uma mulher informa que "já resolveu" e que estão "todos os dois lá".
No dia 23 de abril mais uma vez o Ministério Público encontrou mais um indício da relação de Joel do Mosquito com os PMs. Desta vez, os policiais conversam sobre um pagamento que seria feito pelo traficante para que o tráfico de drogas na Favela do Mosquito não sofresse interferências da polícia.
"Se ele disser que não tem é mentira dele. Se ele não disser que não tem é safadeza mesmo", afirma um dos policiais, que quer receber o dinheiro antes do dia 15 de maio. De acordo com o policial, ele precisa do dinheiro o quanto antes para "terminar a casa". O nome de Joel é citado pelos militares durante as conversas.
De acordo com o MP, o comando do tráfico de drogas na Favela do Mosquito rendeu a Joel um patrimônio de aproximadamente R$ 2 milhões, incluindo automóveis de luxo, apartamentos, terrenos em praias, uma empreiteira e duas clínicas de estética.
O corpo de Joel foi encontrado dependurado pelo pescoço na noite do sábado passado, dia 10. Detentos do Presídio Provisório Raimundo Nonato Fernandes, a Cadeia Pública de Natal.