31 de outubro de 2014

CIDADE NO CEARÁ DISPONIBILIZA SÓ 20 LITROS DE ÁGUA AO DIA POR PESSOA

A última reserva de água da cidade de Irauçuba, no Ceará, secou há quatro meses e os 22,3 mil habitantes dependem de água de cidades vizinhas que chegam em carro-pipa. Na zona rural, a água potável é levada pelo Exército, racionada em 20 litros de água por dia por pessoa, que são usados para todas as necessidades. "São 20 litros para lavar prato, lavar roupa, fazer a comida, tomar banho e ainda beber. É impossível. Estamos em uma situação de penúria mesmo, só sobrevivendo", relata a agricultora Geovana Maria de Sousa.

Na madrugada, famílias se acordam e fazem longas filas para coletar água nos tanques espalhados pela cidade. Horário e data do abastecimento é irregular e família não sabem quando será o próixmo fornecimento (Foto: André Teixeira/G1)

Ela tem no quintal de casa uma cisterna que acumulava água da chuva. Até o fim de setembro era a fonte da família. "Mesmo com pouca chuva neste ano, ainda deu para encher a cisterna toda. Depois que o açude secou, a gente só tinha ela para tirar água e acabou rápido".

Açude Jerimum, principal fonte de abastecimento de Irauçuba, secou há quatro meses. As últimas poças d'água são inadequadas para o consumo humana, mas serve para o rebanho (Foto: André Teixeira/G1)

Na zona urbana de Irauçuba, a 150 quilômetros de Fortaleza, a estação de tratamento da Companhia de Água e Esgoto (Cagece) recebe um volume diário de 250 mil litros, trazidos de açudes vizinhos em carro-pipa. Com essa baixa quantidade – a cidade precisa diariamente de 1,2 milhão de litros (cerca de cinco vezes o que recebe) –, a água chega apenas às torneiras das casas mais próximas da estação.

População divide o dinheiro recebido do Bolsa Família para comprar alimento e água (Foto: André Teixeira/G1)

A maioria da população depende da água levada pela Defesa Civil do Estado do Ceará a tanques públicos espalhados pela cidade. Como o abastecimento é irregular e chega a demorar 10 dias, muitos têm que pagar pelo que consomem.

Na área urbana, quem não pode pagar pela água tem que esperar o abastecimento da Defesa Civil no tanque público mais próximo. Às 2h da manhã de 16 de outubro, a aposentada Maria Amélia levantou da cama acordada pelo filho de 12 anos, que percebeu a chegada do carro-pipa. Em cerca de dois minutos, as ruas da comunidade Fazendo Mocó estavam tomadas por centenas de pessoas com baldes vazios, fazendo fila para coletar água. O caminhão levou 20 minutos para encher o tanque; em menos de 10, ele secou novamente.

Raimunda Rodrigues e a mãe Francisca Rodrigues carregam 15 baldes por semana:

"É sempre assim. Todo mundo corre e fica um alvoroço de gente para conseguir água. Normalmente todo mundo consegue. O problema é quando demora muito para voltar, mais de uma semana. Aí a gente fica sem uma gota d'água em casa. Ou consegue de favor dos amigos ou tem que comprar com o dinheiro do Bolsa Família", relata Maria Amélia.

A autônoma Raimunda Rodrigues, de 42 anos, e a mãe, a aposentada Francisca Rodrigues, 69, também investem parte do dinheiro do Bolsa Família para a compra de água. "Se a gente for esperar [pelo abastecimento de água nos tanque], a gente morre à míngua. Agora a gente compra um pouquinho menos de comida e tem que separar um pouquinho para água de beber", diz a filha. As duas carregam, semanalmente, 15 baldes de 20 litros da rua em frente à casa até a cozinha. "Nós somos mulheres já de idade. Todo dia é carregando isso. A coluna dói, mas, como a gente mora só, vai ter que ser assim".

Segundo a Defesa Civil, a demanda de água em todas as regiões da cidade é muito grande, por isso não há como abastecer de forma regular todos os pontos.

 

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