24 de setembro de 2014

O IBGE E A SUA CRISE ANUNCIADA

Nos últimos dias, a imprensa nacional vem noticiando o grave erro cometido pelo IBGE no calculo de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2013. Como resultado, foram divulgados indicadores incorretos. Dentre eles, o índice que mede a desigualdade, que na divulgação inicial apontava para o aumento desta. Curiosamente, em vésperas de uma eleição presidencial, cuidou-se às pressas de informar que havia um erro e que a desigualdade não havia aumentado. Com a correção, o que haveria, seria uma leve queda. O fato vem a ratificar o fundamento das denúncias feitas pelos servidores do IBGE, recentemente, durante a greve que durou quase três meses. Eles cruzaram os braços em sinal de protesto para denunciar o grave quadro de sucateamento que hoje se verifica na instituição. Os sucessivos cortes orçamentários acabaram sendo refletidos em condições de trabalho que pioraram a cada dia. Tal situação passou a comprometer, inclusive, a qualidade das pesquisas, o que culminou com o movimento grevista. A direção do IBGE negou o fato de a instituição estar mergulhada em uma crise e pouco dialogou com os grevistas durante o movimento. E ainda, em uma tentativa desesperada de contê-lo, demitiu, no Brasil inteiro, 189 servidores temporários que haviam aderido à greve. Dentre os demitidos, estavam 35 do Rio Grande do Norte, incluindo uma servidora grávida e um servidor portador de necessidades especiais. A greve chegou ao seu fim após negociação entre o sindicato nacional dos servidores e a presidência da instituição. Esta, numa atitude intransigente e irredutível, não aceitou readmitir administrativamente os servidores demitidos. O argumento utilizado foi o de que a questão estava judicializada, nada mais havia a ser feito pelo IBGE.

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Alguns dias após o retorno ao trabalho, a presidência noticiou internamente que o IBGE não realizaria as atividades censitárias previstas para 2016, pois a instituição sofrera de um novo corte orçamentário do governo, desta vez em 76% dos seus recursos previstos. Estas mesmas atividades já haviam sido adiadas em um ano, também por falta de orçamento. Deixar de realizar a pesquisa “carro-chefe” da casa, vitrine do IBGE para a sociedade, evidencia o que já fora denunciado pelos seus servidores durante o recente movimento grevista. Os fatos comprovam que a instituição vive um momento ímpar de crise institucional e que a direção apenas assiste inerte aos cortes do governo, permitindo o cancelamento de pesquisas importantes e ainda divulgando dados de pouca confiabilidade, diante das condições oferecidas aos servidores para desempenhar as suas atividades.

Durante a greve, no Rio Grande do Norte, foram feitas reivindicações que foram além da pauta nacional. A representação local do sindicato protocolou junto à chefia estadual do IBGE, um ofício com pauta local de reivindicações dos servidores. Foram listados itens de competência do gestor local para que ele apreciasse e discutisse sobre o atendimento. Ocorre que a pauta não foi sequer discutida com os servidores. O chefe da Unidade Estadual do IBGE no RN, também fechou os olhos para a crise e em represália aos grevistas demitiu 35 servidores temporários que estavam no movimento.

Encerrado o movimento de greve, um grupo de servidores da instituição no estado, motivados por sua discordância com o atual modelo de gestão do IBGE em nível local e nacional, entregou seus cargos de supervisão e coordenação. A entrega também manifesta o sentimento de repúdio destes servidores em relação às situações graves de desrespeito e afronta ao direito, à ética e à justiça presenciadas durante o recente movimento grevista vivenciado na Instituição. Em mais uma atitude intransigente, o gestor local não abriu o dialogo com os supervisores e coordenadores. O natural seria avaliar o que poderia ser atendido para que todos se mantivessem nos cargos, visto que esta entrega significa a interrupção nos trabalhos desenvolvidos por estes servidores, o que certamente se refletirá na qualidade dos dados coletados, se propagando na cadeia subseqüente de tratamento, análise e divulgação.

A greve dos servidores do IBGE serviu como um sinal de alerta para a sociedade, expondo o seu quadro de crise, o que foi ratificado pelo cancelamento do Censo e agora pela divulgaçao deste erro na PNAD. Caso mantenha-se este modelo de gestão, todo o planejamento do país estará pautado em dados de baixa confiabilidade, o que resultará em políticas públicas inadequadas para a solução dos problemas em nível local e nacional. Ademais, caso este modelo de gestão permaneça no IBGE, não é excessivo imaginar um cenário futuro onde o governo passe a se aproveitar da fragilidade da instituição para manipular os dados produzidos ou mesmo chegue à sua extinção na etapa final de uma estratégia perversa que, ao que parece, já se iniciou.

Fonte: ASSIBGE-RN - Núcleo Sindical.

Um comentário:

  1. Pois é meu caro Paulinho. Poucos neste país sabem que quem toca o barco das pesquisas do IBGE são os trabalhadores temporários. Ganham mal, trabalham dia e noite, sob sol e chuva, sem protetor solar ou qualquer outro equipamento de proteção, tendo que tirar do próprio bolso para comprá-los. Sem se falar nos locais perigosos que se enfiam para coletar os dados e na condução de veículos sem seguro e muitas vezes impróprios para locais de difícil acesso. Desvios de função existem aos montes. Muitos temporários ocupam cargos importantes nas pesquisas e outros setores do instituto, substituindo técnicos, analistas, chegando ao cúmulo de chefiarem até agências do órgão em algumas partes do país. Cúmulo este pelo desvio da função e não pela qualidade, já que muitos substituem a altura - e até melhor - as funções dos efetivos. Tudo isso está relacionado ao assédio moral que muitos sofrem, já que o contrato é frágil e a qualquer momento podem ser demitidos. Este fato se comprova pelas 35 demissões realizadas no RN, totalizando 189 em todo país. Os grevistas que não foram demitidos sofrem constante assédio moral por parte da gestão local. O próprio presidente do IBGE/RN, o senhor José Aldemir Freire, falou em forte e bom tom que não representa os seus subordinados, já que foi conivente com as demissões, e que não está preocupado com qualidade e sim com números (quantidade) - acesse o link e comprove: www.youtube.com/watch?v=8XrPY8hgmH8. Infelizmente, o que veio à tona agora, ocorreu tarde. Resta lamentar a míngua e o sucateamento físico e humano pelos quais a fundação e os seus funcionários passam. Forte abraço!

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